Rota 2030 vai destinar R$ 200 milhões para conectividade veicular

Hoje, diz-se muito que o carro é um computador sobre rodas. Uma extensão do smartphone. Não deixa de ser verdade, mas o automóvel tem potencial que vai muito além de uma multimídia que converse como celular. Tanto, que o Rota 2030 tem uma linha específica dedicada à conectividade veicular com visão bastante macro.
Trata-se de um capítulo do programa prioritário do setor que já movimenta e integra indústria e meio acadêmico. As ações da linha de conectividade do Rota 2030 pretende reunir aportes de R$ 200 milhões no período de cinco anos e aperfeiçoar a conectividade veicular nos carros, e também, na cadeia automotiva, rumo à mobilidade do futuro.
Formalizada em agosto de 2022, a Linha VI é coordenada pela Fundep, a Fundação de Apoio da UFMG, por meio de acordo com o Governo Federal. A coordenação técnica fica a cargo do Departamento de Ciência da Computação e da Escola de Engenharia da UFMG.
“O automóvel passa a ter um outro papel de comunicação de todo um meio. Tráfego, segurança, serviços de diagnóstico, de manutenção preventiva, descarbonização, privacidade e segurança de dados… O desafio premente é o que se faz com a quantidade de dados que será gerada pelos carros”, diz o professor Jaime Arturo Ramírez, presidente da Fundep.
Conectividade veicular em quatro frentes
A questão ampla da conectividade veicular é bem ilustrada pelas linhas temáticas que este capítulo do Rota 2030 trata. São quatro frentes principais que inserem ferramentas digitais e dados na nuvem dentro do escopo da mobilidade de um futuro nem tão distante. Desde a descarbonização e carros “conversando” entre si, até segurança de dados e manutenção preditiva.
“A Fundep tem uma agenda constante para fazer a integração entre o ambiente das montadoras e os pesquisadores envolvidos. Esse estreitamento entre os principais agentes tem possibilitado uma sinergia sobre a questão ampla da conectividade”, acredita Prof. Jaime.
As temáticas da Linha VI – Conectividade veicular
Temática 1: Conectividade – Meio ambiente e descarbonização
A eficiência energética dos automóveis é um tema constante para o setor. E passa, inexoravelmente, pela conectividade veicular. No caso dos carros, o uso massivo de sensores e câmeras a bordo podem monitorar as emissões dos motores a combustão, como também outros aspectos que podem contribuir para um trânsito mais fluido – consequentemente, com os veículos poluindo menos.
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“Nós como indústria temos de ser competitivos e temos de ser eficientes. E para ser eficiente temos de ter tecnologia. Entender melhor os gargalos, tomar decisões rápidas. As operações europeias são altamente baseadas em tecnologia”, observa Flavio Sakai, diretor da Harman e representante da Associação de Engenharia Automotiva (AEA) e membro do Comitê Técnico da Linha VI.
Temática 2: Conectividade veicular e o ambiente externo
Esta linha fala da questão do carro dentro de uma infraestrutura que estará interligada nas chamadas cidades inteligentes. É o automóvel que se comunica não só com outros veículos, mas com tudo ao seu redor: semáforos, placas de sinalização, estabelecimentos comerciais etc.
“Os veículos poderão se comunicar entre si para evitar colisões, repassar informações de tráfego, se comunicar com os comércios locais e, assim, novos modelos de negócio poderão ser criados. Esse é, em essência, o principal foco da Linha VI: promover projetos no sentido de estabelecer a área de comunicação veicular”, diz o professor Heitor Ramos, do Departamento de Ciência da Computação da UFMG e coordenador técnico da Linha VI.
Temática 3: Tecnologia da privacidade e segurança de dados
Um tema sensível em tudo que diz respeito à tecnologia é a segurança de dados. Carros conectados e com atualizações na nuvem também estariam suscetíveis à hackers e “bandidos virtuais” como em um smartphone.
O desafio é fazer veículos seguros em todos os aspectos: proteger dados e informação sensível de seus usuários, garantir requisitos de segurança, autenticação, controle de acesso, disponibilidade e privacidade.
“A segurança nasce junto com qualquer projeto de veículo conectado. Existem normas mínimas nesta área já aplicadas na Europa e já discutidas no Brasil”, completa Flavio Sakai.
Temática 4: Serviços, diagnóstico e manutenção preditiva de veículos
A conectividade veicular trata diretamente também do estado de conservação do automóvel. Com informações em tempo real e técnicas estatísticas e computacionais, será possível monitorar as condições dos conjuntos mecânicos que fazem o carro funcionar.
“Há uma grande expectativa com relação à linha VI no sentido de acelerar o processo de modernização da frota de veículos do país no sentido de prover tecnologias de conectividade que ainda não estavam no radar das empresas para o curto prazo”, ressalta Heitor Ramos.
Frentes de ação para pavimentar a Linha VI do Rota 2030
No caminho de todas as temáticas, a Linha VI tem também várias frentes de ação. Para fazer a conectividade veicular acontecer no Brasil, a Fundep enxerga elos que envolvem pesquisa, infraestrutura e mão de obra.
O investimento em pesquisa e desenvolvimento é um dos pontos fundamentais da Linha VI do Rota 2030. Com projetos de PD&I – e o envolvimento da indústria, Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) e startups -, a ideia é gerar impacto relevante no setor.
Segundo a Fundep, serão lançadas chamadas públicas, encomendas tecnológicas e ações de conexão com startups.
Além disso, está na pauta um programa de desenvolvimento de competências em análise de dados e inteligência artificial para a cadeia automotiva. O objetivo é atuar na formação de colaboradores especializados na manipulação de dados e desenvolver oficinas para aproximar profissionais de diferentes setores para lidar com a complexidade dos novos desafios da indústria automotiva.
Ainda dentro dos planos de atuação para a conectividade veicular está o chamado programa de aprendizado federado. A meta é fazer melhor uso dos dados coletados, para gerar aprendizado e possibilitar o desenvolvimento de tecnologias mais aderentes aos veículos e seus usuários.
De acordo com a Fundep, o ambiente federado de aprendizado de máquina terá um grande potencial de impacto na criação de aplicações na indústria automotiva e nas ações governamentais para a criação das cidades inteligentes do futuro.
“A temática de carro conectado não é só a questão da montadora. Neste aspecto falamos de um ecossistema que tem uma empresa que entrega tecnologia e que vai depender de uma outra empresa gigante. Envolve players muito grandes, modelo financeiro, ajustes na regulamentação, entre outros”, observa Flavio Sakai.
Expectativas com a Linha VI e a conectividade veicular
Desta forma, a conectividade veicular traz diferentes benefícios para a cadeia automotiva nacional. Um deles diz respeito ao próprio produto, o carro. Afinal, os dados coletados também servirão para as fabricantes entenderem melhor o tipo de uso que o motorista faz.
“É possível fazer melhorias no produto, acessar o perfil de uso do veículo e saber quais aplicações são mais úteis e focadas no usuário”, exemplifica Flavio Sakai.
O que reforça a ideia de que o carro é muito mais que uma extensão do smartphone. O automóvel fará parte de um ecossistema digital de dados, com inteligência artificial e atualizações em tempo real.
“Os veículos já são computadores sobre rodas, entretanto, atualmente são computadores específicos para controlar as atividades do veículo. Com o advento da conectividade veicular, esse cenário muda e teremos computadores rodando aplicações diversas diretamente nos veículos. É um cenário dessa natureza que nós estamos buscando”, completa Heitor Ramos.
Próximas ações da Linha VI
O coordenador de programas da Fundep, Raylson Martins, explica que neste ano começa a execução dos primeiros projetos de PD&I. E ressalta que será um período de constante diálogo com a indústria e entidade representativas para mapear as principais demandas e urgências do setor automotivo.
“Em 2023 vamos iniciar a execução dos quatro primeiros projetos de PD&I financiados pela Linha VI. Nossa expectativa é lançar uma nova chamada para projetos de inovação, em agosto, e estruturar em conjunto com a indústria os eixos de aprendizado de máquinas e de desenvolvimento de mão-de-obra e de competências”, afirma.
Ainda de acordo com Raylson, o foco está na relação entre indústrias e instituições de ciência e tecnologia.
“O principal objetivo é promover a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação em conectividade veicular e contribuir para o desenvolvimento industrial e tecnológico do setor automotivo e sua cadeia de produção. O objetivo da Fundep é seguir estreitando os laços entre a academia e a indústria em busca do desenvolvimento do Brasil”, conclui.
Fonte: Automotive Now